Espero que gostem, e até mais ;]
Capitulo 3
Era uma loucura tudo aquilo que havia acontecido lá fora, eu estava
perdendo controle de tudo aquilo que eu sentia. Meu estomago continuava
revirando- se e eu estava começando a me arrepender de não ter dito certas
coisas, que pensando bem agora, eu poderia ter dito.
Aquilo tudo era normal? Era normal eu estar me apaixonando por um
humano, com quem eu sonho todas as noites?
Nada era normal, como nada na minha vida é. Mas Ethan era território
proibido para mim, eu como conjuradora não invocada, devia mantê-lo bem longe
de tudo isso. Mas eu queria fazer amizade com ele, queria contar a historia da
minha vida a ele; Ethan me passava confiança como ninguém fora da minha família
havia passado.
Meu tio não havia acordado ainda, entrei de mansinho em casa e fui
para meu quarto organizar meus pensamentos.
Tirei meu caderno de poesia surrado da minha mochila e sentei em minha
cama, eu precisava passava tudo àquilo que eu estava sentindo em poesia.
Respirei fundo e comecei a escrever:
Como não esquecer seus olhos?
Olhos que aparecem em meus sonhos.
Sonhos que dominam minha mente,
Mente que domina tudo,
Domínio que me impede de ser feliz.
Ser feliz sem seus olhos.
Ser feliz sem seus sonhos.
Ser feliz sem sua mente.
-Lena, você esta ai?- perguntou meu tio com uma voz de sono no
corredor.
-Estou aqui tio- gritei de onde eu estava.
Ele deu duas batidas na porta e entrou. Estava vestindo um pijama azul
de seda que era um pouco grande para ele, eu não conseguia entender como o
Ethan e as outras pessoas de Gatlin tinham medo dele.
Comparar Ethan e o resto da população de Gatlin me fez sentir mal, ele
não tinha nada a ver com aquelas pessoas.
-Como foi o dia?- perguntou ele coçando os olhos.
-Legal- respondi.
-Por que causou toda essa tempestade?- perguntou se referindo a chuva,
que agora não passava de um chuvisco comparado ao que estava antes.
Eu não sabia o que falar, não queria enfrentar um sermão de Tio Macon
dizendo para eu não me aproximar de Ethan.
-O rabecão morreu no meio do caminho- expliquei. Eu não estava
mentindo, estava apenas omitindo informação, o que não era errado.
-Quebrou? E quem te trouxe em casa?- perguntou. – Se não me engano
ouvi um carro parar na frente do portão.
Pega! Não teria como mentir, muito menos omitir informação, eu teria
que falar ao meu tio que alguém da escola me trouxe em casa.
-Um menino da minha turma de inglês me trouxe até aqui- expliquei
voltando meus olhos para o caderno.
-Quem é?
-Ethan Wate- respondi olhando de soslaio.
-Ethan Wate…- repetiu ele pensativo. – Filho de Lila Evers Wate, é um
bom garoto, mas você sabe as regras, Lena- disse ele por fim.
Soltei um suspiro silencioso, ainda bem que ele não continuou a falar.
-Claro, tio- respondi. Não perguntei a ele como ele sabia o nome da
mãe de Ethan, primeiro que ele não ia me responder. E segundo que eu queria que
ele me deixasse sozinha.
-Estou confiando em você- falou ele quando estava se aproximando da
porta.
-Pode confiar- falei, mas já era tarde, ele já havia saído do meu
quarto.
Eu estava um pouco exausta na manhã seguinte, não havia dormido bem,
nem sonhado com Ethan. Estranho, era a primeira vez em meses que eu não sonhava
com ele.
Fiquei alheia as minhas primeiras aulas pensando sobre o Ethan, eu já
não sabia mais o que fazer com aqueles pensamentos.
Entrei ainda alheia na sala de inglês. Eu sentaria no lado da sala que
ninguém sentava, e rezaria ao mesmo tempo para que Ethan sentasse ao meu lado e
para que ele não sentasse. Sim, eu estava indecisa sobre o que seria melhor.
Estava tão distraída que acabei esbarrando em alguém que estava parado
na sala. Na hora que nossos corpos de tocaram a luz falhou. Quando olhei para
cima vi que era Ethan, não pude ignorar as borboletas em meu estomago.
Ele abaixou para pegar minhas coisas quanto eu falava a única coisa
que veio em minha cabeça:
-Você está tentando me matar pela segunda vez em dois dias, Ethan?
Ele me olhou com uma ruguinha entre os olhos.
-O que?- perguntou.
-Perguntei se está tentando me matar de novo- repeti.
A classe estava em silencio. Não cheguei a olhar, mas podia apostar
que estavam todos olhando para nós.
-Eu não sabia que você estava aí.
-Foi o que você disse ontem à noite.
Ele ficou ruborizado quando disse aquilo. Achei bem fofinho, apesar de
ele estar com vergonha.
-Desculpe. Quero dizer...Oi- disse sem graça. Aos meus olhos ele
pareceu ainda mais fofo.
Andei até a mesma carteira que havia ocupado ontem e sentei-me
pousando minhas coisas nela.
Ethan veio e sentou se ao meu lado. Comecei a abrir um sorriso de
satisfação, mas lembrei de que estava fazendo errado. O objetivo não era atrair
Ethan e sim fazer com que ele não perceba minha presença.
Eu não queria pensar nesse assunto nesse momento, aquele assunto já
estava me cansando. Era só eu conversar com Ethan normalmente, mas sem contar
tudo sobre minha vida. Eu só precisava ser normal pelo menos em uma cidade da
minha vida.
A senhora English entrou na sala e olhou para nós.
-Oi, Ethan- disse uma garota do grupo de líder de torcida. Ela sorriu
para ele, o que me fez ficar com raiva. Ela só estava fazendo isso porque Ethan
estava comigo, se não estivesse ela teria ignorado ele. - Como vai?
-Não queríamos que você tivesse que sentar aqui sozinho- disse outra
se aproximando. Essa garota me chamou de ninguém? Ninguém era ela que, como as
outras, queriam se tornar clones daquela tal de Savannah loirinha e
perfeitinha. Ela assim era uma ninguém, que não tinha sua própria personalidade
e que vivia seguindo o padrão. Como as pessoas conseguem viver aqui nessa
cidade, onde tudo é igual? Sinceramente não entendo.
-Tem como esse livro ficar mais chato?- perguntou outra, acho que seu
nome era Emily. Aquele comentário me fez querer pular em seu pescoço, O sol é para todos não era nenhum pouco
chato, era um dos melhores livros que eu já havia lido. Além de não terem
personalidade, elas não tinham cultura. Eu precisava me controlar se não
acabaria causando um tornado inesperado em Gatlin. – Como se eu quisesse ler sobre
uma cidade cheia de gente completamente doida. Já temos muito disso aqui.
Uma garota sentou- se ao meu lado e deu um sorriso para mim, o que me
distraiu. Quando retribui o sorriso, ela pegou sua pasta e começou a olhar seu
conteúdo. Aquilo me fez ficar para baixo. Talvez ela tenha esquecido por uma
fração de segundo quem eu era.
Já que ela não ia me distrair, peguei meu caderno de poemas e escrevi:
Vejo costas, nenhum rosto.
Será que ninguém me vê?
-Certo, senhoras e senhores, já que parece que o resto das luzes vai
permanecer aceso, vocês estão sem sorte. Espero que todos tenham lido o livro
ontem à noite- disse a Senhora English enquanto escrevia no quadro negro. –
Vamos falar por um minuto sobre conflitos sociais num ambiente de cidade
pequena.
-Quem sabe por que Atticus está disposto de defender Tom Robinson
frente à limitação de pensamento e ao racismo?
-Aposto que Lena Ravenwood sabe- disse a primeira menina que veio
falar com Ethan. Eles ainda não tinham percebido que meu sobrenome não era Ravenwood?
-Cala a boca- falou Ethan alto. – Você sabe que esse não é o nome
dela.
-Podia muito bem ser. Ela mora com aquela aberração – disse a segunda
garota.
Acalme- se Lena, você é superior a elas.
-Cuidado com o que diz. Ouvi dizer que eles são, tipo, um casal- disse
Emily.
-Já chega- gritou Senhora English.
Fingi estar entretida em meu caderno e mudei minha posição na cadeira.
Eu sabia que elas não eram superiores a mim. Mas Ethan não conseguiria
me defender por muito tempo, era ele contra as meninas que mandavam na escola.
Você não vai conseguir, era isso o que eu queria falar para ele, mas
não queria atrair muita atenção para mim.
Acho que eu me sentia
responsável de certa forma. Emily e as outras talvez não a odiassem tanto se
não fosse por mim.Ouvi a voz de Ethan em minha cabeça.
Odiariam.
Um passado invisível.
Um futuro inexistente.
O que será do presente?
Escrevi no caderno na tentativa de esquecer daquela voz em minha
cabeça. Eu não queriaacreditar que era mesmo a voz de Ethan que estava na minha
cabeça, mas pelo que parecia, era mesmo.
-Harper Lee parece estar dizendo que não se pode conhecer realmente
alguém até que se coloque no lugar dessa pessoa. O que entendem por isso? Alguém?
Harper Lee nunca morou em
Gatlin. Pensei, mas parece que Ethan ouviu meu pensamento, assim como eu
ouvi o dele, porque de repente ele parecia estar segurando a risada.
Comecei a pensar na pergunta, talvez eu devesse aproveitar a deixa
para jogar uma indireta naquelas meninas.
Levantei a mão.
-Acho que significa que temos que dar uma chance às pessoas, antes de
pular automaticamente para o ódio. Não acha, Emily?- olhei para Emily e sorri.
-Você é bizarra.
Você nem faz ideia.
Cansei de escrever em meu caderno, o fechei e peguei minha caneta
permanente. Marquei 151 em minha mão, os dias que faltavam para minha
invocação, ainda tinha essa para me preocupar.
-Vamos falar sobre BooRadley. O que os faria acreditar que ele está
deixando presentes para as crianças Finch?
-Ele é como o Velho Ravenwood. Provavelmente está querendo atrair as
crianças até a casa deles para depois mata-las- falou Emily em um tom alto para
me provocar. - Então ele coloca os corpos no rabecão e os leva para o meio do
nada para enterra-los.
Cala a boca.
-E ele tem um nome estranho, BooRadley. Do que se trata?
-Você está certa, é aquele nome bíblico assustador que ninguém mais
usa.
-Emily, por que você não dá um tempo?- Ethan me defendeu. Eu já estava
começando a perder a paciência, tentar me atacar é uma coisa, mas atacar minha
família é outra completamente diferente.
-Ele é esquisito. Todos eles são e todo mundo sabe.
Mandei calar a boca.
Respirei fundo, eu não podia fazer nada. Eu era apenas a sobrinha de
um homem, cuja cidade inteira temia, contra as garotas mais populares da
escola. Suas mães eram da FRA, se eu fizesse alguma coisa contra essas meninas,
elas não iam protelar em contar para suas mães, o que resultaria em minha
expulsão da cidade. Pensar nisso me fez ficar com mais raiva.
Tentando me contra peguei meu lápis e fui até o apontador como se nada
estivesse acontecendo.
-Melchizedek, é isso.
Pare.
Eu não podia perder a paciência, mas não conseguia me controlar, elas
estavam falando da minha família.
-Minha avó diz que é um nome maligno.
Pare, pare, pare.
Eu não sabia do que era capaz de fazer se eu perdesse completamente a
paciência. Talvez um tornado, uma tempestade, eu não tinha controle dos meus
poderes.
-Combina bem com ele.
CHEGA!
Foi a gota d’ agua esse comentário. Já estava passando dos limites. Eu
estava começando a ficar com calor de tanta raiva que estava sentindo, e cada
vez mais essa raiva ia crescendo dentro de mim.
Ouvi a rachadura do vidro da janela ao meu lado, e em poucos segundos
o vidro começou a voar para dentro da classe perto daquelas meninas.
Elas começaram a gritar. Eu não sabia como tinha feito aquilo, só
sabia que foi minha culpa.
As pessoas se levaram e olharam para mim, fiquei estática, eu não
sabia o que fazer, não sabia para onde olhar.
-Não entrem em pânico. Estão todos bem?- perguntou Senhora English.
Um nó em minha garganta estava começando a se formar. Eu queria chorar
de susto, de raiva, mas não poderia fazer isso agora.
Olhei para minhas mãos, os vidros que voaram da janela haviam cordado
elas.
Quando desviei os olhos das
minhas mãos vi que Ethan estava olhando para mim, ele devia estar pensando que
eu era um monstro. Isso me deu mais vontade de chorar, eu havia perdido aquela
pessoa que me passava confiança.
Eu não pretendia...
-Lena...- disse ele olhando fixamente para mim.
Eu não o aguentaria me fazendo perguntas agora. Sai correndo da sala de aula.
Eu era um monstro, não poderia ficar perto de Ethan. Eu poderia
machuca- lo a qualquer momento sem perceber.
Entrei no rabecão e dirigi até Greenbrier, o único lugar de Gatlin que
não teria ninguém para ofender minha família, nem para me chamar de
monstro.
Durante a viagem o nó em minha garganta começou a se afrouxar
transformando- se em uma enxurrada de lagrimas.
Continua...
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